CHAMADO

31/12/2011 11:34

 

CHAMADO

 

Para alguns a vida é tão boa. Cômoda. Para muitos de nós também. Vivemos acomodados. Trabalhamos, estudamos, planejamos nossa vida de acordo com o que nós temos e até com o que não temos. Sonhamos muito, não há qualquer problema, contudo, desde que nossos vôos não procurem alvos impossíveis, impalpáveis, que nos impeçam de atingi-los e findem por nos deixar apenas na ilusão, no desejo sem nenhuma atitude correspondente. Quantas vezes, no entanto, estamos em nosso canto, escondidos, em nossa vidinha pacata, sem nenhum propósito, implorando por não sermos instigados por ninguém. Ficamos ali, fingindo-nos de mortos, para que ninguém nem nada nos incomodem. Mas Deus tem um chamado. E não importa que tipo de vida estejamos vivendo: se intensa, se parada, se triste ou alegre. O chamado não tem barreira nem obstáculo, nos encontra onde quer que vivamos. Por vezes nos pega de surpresa: em frente ao fogão, na hora da comida, no momento da limpeza da casa, da lavagem do carro, no caminho para o trabalho, durante o banho... A voz vem de dentro, nem sempre coincide com a do anjo Gabriel mensageiro, porém, a gente entende da mesma forma. Podemos até ignorar, tapar os ouvidos, fechar o coração, mas ela, a voz de Deus, insiste, mesmo sufocada. Maria atendeu prontamente ao chamado, o que não ocorre muitas vezes conosco. Resistimos na maioria das vezes, pensamos muito, impomos condições, não queremos nos comprometer, ter trabalho, desgastar-nos. Algo impossível parece brincadeira de criança perante Deus. Um filho concebido sem o matrimônio, a esterilidade constatada se transforma em luz e na vinda de um novo ser, a cegueira que se desfaz, túmulo que se abre, dores que passam, deixam de fustigar. Basta que atendamos ao chamado e, de preferência, de coração aberto sem resistir. A glória se fez em Maria da mesma forma que também pode se fazer em nós, ao atendermos aos apelos de Cristo, conforme as escrituras. Combatamos os preconceitos, a inércia, a omissão, a preguiça. O projeto de Deus para nós é para a plenitude que começa aqui e vai para bem além. É muito mesquinho abandonarmos os projetos que Deus em nome das nossas tarefas cotidianas intermináveis. É possível conjugar o nosso dia-a-dia sem temer, aos poucos, até chegarmos a atitudes compatíveis ao chamado do que Deus tem para nós. Ao nos aliarmos ao medo e à preguiça, construímos um castelo frágil que não nos abrigará da alegria que é viver um projeto de Deus, cujo alicerce é indestrutível, enfrenta qualquer abalo que a vida pode nos pregar. Abracemos, como Maria, as tarefas que Deus tem para nós. O resultado nem precisa ser esperado, porque ele já começa a frutificar no mesmo instante que começamos por as mãos à obra. Os exemplos na Bíblia são muitos, assim como os da atualidade, não tão distantes de nós, lembremos de Zilda Arns, Madre Tereza, neste momento. Homenageio, também, nesta hora, Ana Maria Guimarães, minha contemporânea, colega de escola e de bairro cujo legado da alegria, da beleza, e da fé em Deus atravessou a fronteira para a espiritualidade e muito ensinou com seu exemplo de vida.

 

O semeador.

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